[ESPECIAL] A vida exigem coragem

 

Vida, coragem e ousadia

Coragem e ousadia.

Fiquei pensando de que forma poderia começar esse texto depois de ter lido a um livro necessário e enriquecedor, até que essas duas palavras surgiram na minha mente. Duas palavras que talvez definam bem o que é a vida, o que é viver, o que é estar vivo, o que é passar por esse mundo. Duas palavras que podem assustar, incomodar ou nos dar aquela sensação de insuficiência. Duas palavras que podem nos salvar.


O livro em questão, escrito por Brené Brown, chama-se “A Coragem de Ser Imperfeito”. Talvez você já tenha lido, então será um prazer conhecer as inspirações que a leitura lhe proporcionou, ou talvez esse esteja sendo o seu primeiro contato com o título, então fica aqui a indicação. De qualquer modo, duas palavras que definiriam bem essa obra, assim como definiriam a vida, são coragem e ousadia. Porque viver no mundo em que vivemos exige, diariamente, uma boa dose de coragem e um bom revestimento de ousadia.


E digo isso porque vivemos dentro de uma realidade exigente, cheia de cobranças, que nos priva em tantos momentos e nos ameaça com a “maldição do desamparo”. Porque é bem verdade que somos necessitados do contato com o outro, do vínculo com o outro, da amizade com o outro. Dependemos, de certa forma, uns dos outros. Não quer dizer que todas as pessoas do mundo tenham entre si uma dependência direta. Quer dizer que, até por questões de sobrevivência, necessitamos ter em nossas vidas aquelas pessoas que nos aceitam.


E aí entro num ponto importante que foi destacado pela autora ao longo de seus escritos. Em nome dessa aceitação a gente se submete às mais altivas exigências, adaptamo-nos a elas, e, pensando que somos aceitos, estamos apenas sendo encaixados – só que para esse encaixe a gente se mutila. Isso porque os moldes que existem não foram pensados para nós, não suportam o nosso tamanho, não comportam o nosso formato. E para nos encaixarmos neles precisamos arrancar uma mão, jogar fora um braço, lançar para longe uma perna. Nessa de querermos ser aceitos quando, na verdade, estamos apenas nos encaixando, jogamos fora a nossa essência, desrespeitamos as nossas verdades e nos esquecemos de nossos sonhos – deixamos de ser quem somos, indo no sentido contrário ao que é ser aceito.


“Encaixar-se tem a ver com avaliar uma situação e tornar-se quem você precisa ser para ser aceito. A aceitação, ao contrário, não exige que você mude; ela exige que você seja quem realmente é”


Mas por que essa aceitação é tão importante? Por que temos tanto medo da reprovação? Da rejeição? Da falta de admiradores? Nessa de vivermos em função das outras expectativas, a gente se anula, se diminui, se rende. A gente deixa de ser ousado. Porque, sim, viver a própria vida sendo quem se é, é um gesto de ousadia em terra de imitadores.


A verdade é que não precisamos do mundo todo ao nosso redor nos admirando ou conhecendo. A autora fala bastante ao longo do texto sobre a ideia de vulnerabilidade. Tentamos nos prender a fim de que não vejam nossas imperfeições, não notem nossas inseguranças, não percebam os receios que carregamos dentro de nós. Detestamos a ideia de estar em posição de vulnerabilidade. Passamos, então, a usar máscaras e armaduras, tudo para que nossas vulnerabilidades – aquilo que chamamos de imperfeições, aquilo para o que precisamos de coragem a fim de assumir que faz parte de nós – não sejam notadas.


Nossas vulnerabilidades, por serem percebidas enquanto imperfeições, nos deixam tão ameaçados porque podem significar um rompimento de vínculos diante da vergonha que podemos experimentar – e perder os vínculos nos apavora. Mas eis que surge uma ideia grandiosa: “[...] é uma perda de tempo medir meu valor pelo peso da reação das pessoas nas arquibancadas. Quem me ama estará ao meu lado sempre, independente dos resultados que eu possa alcançar”. Não precisamos depender da aprovação, da aceitação, do carinho, do apreço, do amor, da admiração de todas as pessoas que, por algum acaso, cruzarem o nosso caminho. Quem importa de verdade são as pessoas que amamos e que nos cativam.


“Vulnerabilidade tem a ver com compartilhar nossos sentimentos e nossas experiências com pessoas que conquistaram o direito de conhecê-los”


Porque nos sentimos vulneráveis quando expomos nossas intimidades, não é verdade? A gente custa dizer que ama, que gosta, que tem apreço porque estará dando uma abertura que pode ser ameaçadora, incômoda, que revelará uma parte importante de quem a gente é e do que possui. Mas perceba o que a autora disse nessa última citação. Nossa vulnerabilidade é compartilhada com quem conquistou o direito de conhecê-la. E só conquista esse direito quem se revela confiável, importante, digno do nosso amor e da nossa querência. E se essas pessoas se mostraram tão dignas ao ponto de conquistarem pedaços tão importantes de nós, o que elas fariam diante da nossa vulnerabilidade? Poderiam se orgulhar da nossa coragem por desnudarmos a elas o quanto as consideramos.


“Abrir mão de nossas emoções por medo de que o custo seja muito alto significa nos afastarmos da única coisa que dá sentido e significado à vida”


É a partir das emoções que a gente sente o valor da vida, o preço do amor, a riqueza de se criar vínculos com alguém. As emoções nos mantêm vivos, livram-nos de perigos e nos ajudam a seguir em frente diante das ameaças. As emoções podem nos proporcionar memórias inesquecíveis com pessoas que amamos. Nossas emoções dão colorido à nossa história. Dão sentido e propósito ao nosso caminhar! É preciso coragem para assumirmos o que sentimos. É necessário ousadia para olharmos no espelho e nos orgulharmos da existência que nos foi dada. É exigido de nós frieza e distanciamento porque dizem que assim estaremos protegidos para seguirmos nosso caminhar sem interrupções ou intempéries. Em um mundo de insanas competições, criar vínculos e se permitir vulnerável é como correr ao abismo – dizem. Mas o que nos mata de verdade, o que retira de nós aquela sensação de estarmos vivos e de que isso importa, é o fato de nos sufocarmos por máscaras apertadas para que não vejam o nosso rosto nem toquem nosso coração. Quando acreditamos que estar vulnerável a quem amamos, ou à vida, é uma ameaça fatal, deixamos de viver a vida que gostaríamos, sentir os amores que almejávamos, experimentar os sabores da existência, passamos a assistir o que escreveram a nosso respeito e não ao que escrevemos na cabeceira da cama nas noites nas quais o sono se aproximava. Ficamos do lado de fora da nossa vida, alheios, rendidos aos destinos que nos encaminharem – destinos tristes, destinos melancólicos, destinos que se venderam como “Perfeição”, mas que não passavam de ilusões de mentes que não ousaram a viver de verdade. Porque coragem e ousadia na hora de viver não quer dizer que sairemos por aí guerreando com a espada em punho tendo sangue nos olhos. Quer dizer apenas que assumiremos quem somos, os sentimentos que sentimos e nos convenceremos de que na vida importa a nossa satisfação e o carinho de quem é valioso manter ao nosso lado!


“Nada é mais incômodo, perigoso e doloroso do que constatar que estou do lado de fora da minha vida, olhando para ela e imaginando como seria se eu tivesse a coragem de me mostrar e deixar que me vissem”

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