A verdadeira escuta

 

Escuta de qualidade

Antes de começar a leitura, talvez esse vídeo, sobre a escuta verdadeira, possa interessar a você!





No próximo dia 27 de agosto, sábado, a Psicologia, enquanto profissão regulamentada em nosso país, completará seus 60 anos de existência! Quanta história e quanta bagagem. Não consigo nem mesmo mensurar a importância desse marco, o significado dessa trajetória para a vida de milhões de pessoas que, de alguma forma, já foram afetados pela sua maneira de compreender e entender o ser humano.


Foi com o objetivo de celebrar essa data que gravei o vídeo acima, comentando um pouquinho sobre a grandeza dessa ciência. No entanto, para aqueles que adoram uma boa leitura, fica aqui o registro escrito. Não é uma transcrição do vídeo. Apenas um complemento.


Como sabemos, diversas são as teorias que embasam o trabalho profissional de psicólogas e psicólogos em seus diferentes ramos de atuação. E essas teorias são escolhidas a partir da visão de mundo e de homem que cada profissional possui. São teorias de base, ou seja, fundamentam e justificam as práticas e intervenções, mas não são exclusivas, portanto, um behaviorista, por exemplo, com o olhar atualizado sobre o seu fazer, pode pegar emprestado alguns conceitos da Psicanálise afim de melhor trabalhar com aquele ser humano à sua frente.


De forma bem resumida e sem esgotar as possibilidades (já que para cada teoria há dedicada uma infinidade de livros e artigos profundos), essas abordagens são conhecidas como comportamentais (cujo foco está no comportamento disfuncional e em intervenções a fim de transformá-lo), cognitivas (trabalham com padrões disfuncionais de pensamento, confrontando crenças irracionais e as substituindo por formas mais claras e concisas de pensar) e de insight (como a Psicanálise, que trabalhará trazendo à consciência aspectos do inconsciente do indivíduo, ou as humanistas, como a Gestalt-terapia, que trabalha com a ampliação da consciência do sujeito sobre a sua experiência presente)¹. Você precisa ter na ponta da língua tais informações caso queira se consultar com um psicólogo? Definitivamente não.


E não porque, como já conversamos, essas são apenas teorias que buscam delimitar as ações dos profissionais, no entanto, como podemos observar na prática cínica, a maioria dos atendimentos busca modificar algum comportamento ou alguma crença disfuncionais, assim como tentam fazer com que o paciente tome consciência quanto à responsabilidade que possui sobre sua vida. Portanto, é importante que o profissional domine sua teoria a fim de melhor acolher seus clientes, mas quanto a você, ansioso ou ansiosa apenas por uma consulta, tão somente precisa se dispor à experiência.


Uma experiência muito gratificante, já que, independente da corrente teórica que a psicóloga siga, seu papel principal está em ouvir. Ouvir de verdade. Escutar. Escutar verdadeiramente. Ofertar àquele paciente que a procurou um espaço de acolhimento, de compreensão, que propicie a expressão de dores, de angústias e a possibilidade de amadurecimento e crescimento frente aos desafios.


Porque o que acontece no mundo lá fora é que as pessoas às vezes falam de suas dores, de suas inquietações, e recebem de volta o quanto o outro parece sofrer mais. Não quero dizer que as pessoas são insensíveis ou “ultracentradas” em si mesmas – há gente assim, infelizmente, mas conversaremos sobre isso em outra oportunidade –, quero dizer apenas que às vezes elas próprias estão se ensurdecendo com as próprias angústias, estando incapazes de ouvirem com qualidade a dor do outro.


O psicólogo, treinado para ouvir, está também treinado para reconhecer suas limitações para que estas não atrapalhem na qualidade da atenção que dedica a seus clientes. Se sua dor está alta demais, então ele sabe que antes de ouvir a do outro, precisará resolver a própria e, assim, não comete a insensibilidade de relativizar o “irrelativizável.


Agora, pensando no profissional que está em dia com sua saúde mental (estar em dia não quer dizer em constante perfeito estado – assunto, também, para depois; podem me cobrar!), ele tem a capacidade de oferecer uma escuta que não julga, uma escuta que não condena, uma escuta que não exclui, uma escuta que não aumenta a culpa, antes busca aliviar a tormenta. E essa experiência, de ser verdadeira e completamente escutado, sem julgamentos ou condenações, não são muitos de nós que já tiveram a sorte de experimentar. E essa escuta pode ser transformadora. Faz o outro se sentir importante. E sentir-se importante pode ser a cura para tantos males que afligem nossa alma, ardem em nosso coração, fazem a vida perder a cor.


Com isso que falei, o que quero dizer é que se eu precisasse resumir o significado que a Psicologia tem para mim, um ainda estudante, quase formado, com tanto a caminhar, expressaria que ele reside na verdadeira escuta que essa área oferece. Sempre foi assim? Não. A história da Psicologia nos mostra como as coisas chegaram ao que é. E que bom que chegaram. E vejo essa escuta como fundamental em qualquer que seja a área. Um psicólogo hospitalar lá está para ouvir a dor. Uma psicóloga escolar lá está para ouvir as demandas. Um psicólogo clínico lá está para ouvir o desesperado desabafo. Entendo que a Psicologia só pode cumprir seu papel se se prestar a, antes de qualquer coisa, ouvir e observar, para então entender como trabalhar. E em um mundo de falantes simultâneos, que, de tão preocupados em falar, acabam nada falando, quem ouve de verdade é rei.


Um feliz dia da Psicologia!


(¹) Informações baseadas na nona edição do livro Psicologia, escrito por David Myers e publicado em 2015 pela editora LTC


(Texto escrito por @Amilton.Jnior)


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