A passagem das coisas
Os antigos sábios já diziam que a única coisa durável na vida é a impermanência. Antigas tradições, como o budismo, pontuam a mesma verdade e acrescentam que, por vezes, o que nos causa a dor e o sofrimento é o apego por aquilo que é passageiro, é a nossa tendência por nos fixarmos em algo impedindo o natural fluir da impermanente existência. Lembremo-nos do fato de que águas que se acumulam aos montes, se não tiverem uma via de escoamento, acabam rompendo as barragens. Será que nosso incômodo e desconforto não poderia estar conectado ao nosso inflexível apego àquilo que precisa passar?
“Aceitar a impermanência não significa desistir das coisas, mas sim aceitar que elas passam” (Shunryu Suzuki)
Desistir das coisas talvez seja abrir mão, precocemente, daquilo que nos é caro. Às vezes por medo, ou por indisponibilidade, ou até mesmo por aquela ânsia de vivermos a infinidade de oportunidades que nos são apresentadas a todo o momento, acabamos desistindo antes da hora do que nos faz felizes e nos ajuda a atribuir algum sentido ao nosso caminho. O que é um equívoco. Em muitas vezes, por essa falta de disponibilidade ao que importa, fazemos do importante algo banal e perdemos tesouros cujo valor somos incapazes de estimar. Aceitar que as coisas passam, no entanto, é diferente de desistir delas. Se desistir nos faz abrir mão, aceitar a impermanência nos faz lançar mão sobre aquilo que, sabemos, não durará para sempre. Então o amor é vivido com intensidade, a amizade é valorizada com sabedoria, a família é amada com vontade, os passeios são dados com presença, a vida é vivida de verdade. Isso porque, temos a certeza, o amor vai acabar, nossos amigos um dia partirão, nossos filhos crescerão, ficaremos velhos e o caminhar será desafiador, em suma, a vida terá o seu ponto final em algum momento. Aceitar a passagem do tempo e estar atento a isso é o que nos garante apreciá-lo por completo.
Portanto, esteja atento à impermanência das coisas. Você também é impermanente. Isso não significa que deva desistir de seus sonhos ou projetos. Ao contrário. Apenas quer convidá-lo a aceitar sua efemeridade e, a partir dessa consciência, ter sobriedade ao escolher os caminhos pelos quais trilhar.
(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)
Você pode assistir a uma interessante conversa sobre o tema da Impermanência no vídeo abaixo:
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