[Especial] Psicoterapia: Um lugar de encontro
Nossa vida é baseada em encontros. E os encontros, por sua vez, são baseados em trocas, em descobertas, em transformações pela novidade que nos toca. Ao chegarmos por aqui, assim que saímos da barriga de nossas mães, vivemos nosso primeiro encontro. Encontramo-nos com o mundo. E nesse encontro acontece nossa primeira troca, a da vida, a que nos garante sobreviver. É no ato da respiração que somos modificados: antes dependentes daquela que nos protegia em seu ventre, agora respiramos por nossa conta.
E a vida continua. Encontros e mais encontros são vividos e revividos. Somos mudados. Mas também mudamos. Somos afetados pelo mundo, mas também o afetamos. Trocas incessantes e ininterruptas. Aliás, é quando a troca se torna impossível que passamos a ficar extremamente rígidos e inflexíveis: incapazes de contatar a novidade, assimilar o desconhecido, acabamos enrijecidos num modo de ser adoecedor e disfuncional. Em sofrimento, sem saber para qual caminho seguir, é quando nos permitimos a um encontro diferente de todos os que vivemos, um encontro que suscita fantasias e expectativas, um encontro que nos leva a um lugar que não conhecemos, embora nele estejamos a todo instante!
Chegamos à psicoterapia, um lugar de encontros.
É claro, encontramo-nos com a figura do psicoterapeuta. Aquele sujeito diferente de todos os outros sujeitos com os quais nos deparamos. Alguém que nos acolhe e escuta. Alguém que nos acompanha e dá as mãos se necessário for. Ele nos afeta. Nós também o afetamos. Naquela experiência tão singular e única, acontecem trocas e transformações. Percebemos que há formas diferentes de nos relacionarmos com alguém. E experimentamos de uma aceitação genuína que não encontramos em nenhum outro lugar. Aceitação que nos permite nos enxergar e contemplar. Aceitação que nos permite entender que talvez nosso modo de ser não esteja tão adequado quanto deveria. Por isso sofremos. E, então, lembrando-nos de Freud, entendemos a responsabilidade que temos na desordem pela qual nos queixamos. Descoberta que se dá pela aceitação interessada e genuína. Uma aceitação que nos encaminha ao mais especial e renovador dos encontros. O encontro conosco mesmos.
É aqui onde está o maior dos objetivos de uma psicoterapia. Não é nos transformar em humanos com poderes sobrenaturais. Não é nos adequar ao que a sociedade espera de nós. Não é nos “corrigir” às expectativas de nossos familiares. Não… O objetivo é que possamos nos ver e reconhecer. Que possamos nos olhar sem medo nem insegurança. Que possamos contemplar nossos cantos mais escondidos e neles adentrar sem medo ou, ainda que com medo, aproximarmo-nos deles sabendo que estamos amparados por uma companhia que nos suporta e acolhe. O objetivo é que, muitas vezes distanciados de quem somos, possamos nos reencontrar com a nossa existência, compreendê-la, entendê-la, observá-la atentamente. Esse encontro pode doer, é claro. Talvez sejamos levados a descobrir coisas que por muito tempo vínhamos disfarçando ou evitando. Esse encontro também pode ser agradável. Talvez através dele tenhamos a chance de validar nossos aspectos fortes e saudáveis, aqueles que, por sermos extremamente autocríticos em tantos momentos, acabam ignorados ou esquecidos. Passemos pela dor ou pelo riso, esse encontro é o que nos permite crescer e amadurecer, é o que nos permite mudar e transformar a nossa forma de aqui estar. É esse encontro que nos faz perceber como queremos viver, qual tipo de história queremos escrever. E é esse encontro que nos permitirá refletir sobre o que precisaremos fazer a fim de conquistarmos a vida da qual queremos desfrutar. Um encontro que nos revelará que não adianta esperar do mundo, dos outros. Um encontro que nos encherá de coragem para que assumamos a responsabilidade pela liberdade que temos de compor o livro que ninguém mais poderia compor: o da nossa singular passagem por esse Universo!
Essa é uma reflexão em homenagem ao 27 de agosto, dia do psicólogo
(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)
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