Seja abrigo

Acolhimento


Não é nosso dever adotar a postura de “salvadores da pátria”. Não somos responsáveis por garantir alegrias, contentamentos ou satisfações a quem quer que seja. Muito menos está em nossas mãos o poder de resolver os problemas de alguém, afinal, em tantos momentos nem mesmo os nossos nós conseguimos solucionar e, assim, incomodados pelas nossas dores, como seremos capazes de sarar a dor de alguém? Então, não! Não é de nossa responsabilidade salvar a quem quer que seja. Pelo menos não de forma obrigatória, compulsiva ou impossível de ser rejeitada, como quando temos dificuldade de colocar limites entre o campo que nos pertence e o campo que pertence aos outros. No entanto, podemos ser abrigos, podemos ser aqueles que abrem os seus braços em um momento de dor, que oferecem seus ouvidos em um instante de desespero, que concedem sua companhia em uma hora de árdua e intensa solidão. Não temos o poder de curar ninguém – ao menos da forma como se compreende a cura. Mas talvez tenhamos a capacidade de, dentro de nossas limitações, ser abrigo no dia da tempestade.

E isso não exige muito de nós. Não precisamos ser grandes heróis. Não é necessário que tenhamos todo o conhecimento do mundo. Nem mesmo precisamos ser os donos dos mais eloquentes discursos, sempre com as palavras certas a serem ditas nos mais variados e extremos momentos. Não... Não precisamos exceder a nossa capacidade humana para que simplesmente sejamos abrigo ao necessitado, ao enfraquecido, ao ferido, ao desprezado. Basta que tenhamos abertura. Basta que sejamos humildes o bastante para reconhecer que somos insuficientes quando o assunto é resolver a vida de alguém. Basta que, uma vez assumido a nossa fragilidade, possamos olhar para o outro com compaixão e, sinceros, conceder-lhes não a nossa salvação, porque também precisamos ser salvos de algo que nos aflige, mas a nossa aceitação, a nossa compreensão, o nosso abrigo!


Vamos conversar mais sobre o assunto? Ouça agora mesmo o episódio 36 do Coisas da Vida Podcast clicando aqui.


(Texto de @Amilton.Jnior)


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